A ORIGEM DO BLOG


Abre-te, sésamo!

Este é o meu primeiro artigo, assim entendido como um texto de opinião pessoal totalmente irrelevante e despretensioso, em que, como manda o figurino, devo explicar a origem do blog (e seu pseudônimo).

Sou descendente de pais e avós pobres – classe E que significa renda familiar até 2 salários mínimos –, razão pela qual, durante toda a minha infância e juventude, posso dizer que sobrevivi ao invés de viver.

Eu fui criado com os meus avós paternos (in memoriam) nos princípios do catolicismo e sempre gostei de trabalho e escola.

Em razão das dificuldades financeiras, a minha mente criou um sistema de autodefesa, qual seja, eu esqueço com muita facilidade o passado, acredito que seja em razão da dor sofrida, mas, alguns fatos são inesquecíveis.

Um fato memorável foi quando, aos 12 anos, eu estava ajudando o meu pai na oficina e, numa conversa descontraída, ele me perguntou: o que você vai ser quando crescer? Sempre muito pensativo, eu estava refletindo quando o meu pai subitamente já me deu a resposta: você vai ser um serralheiro igual ao seu pai. Vai fazer um curso no SENAI.

A minha réplica foi a seguinte: pai, eu ainda não sei o que eu vou ser, mas uma coisa eu tenho certeza, eu vou fazer um curso superior.

Para os mais novos pode parecer trivial, uma banalidade, mas, naquela época, a minha afirmação soou como inalcançável, uma vez que, como dito, a minha família não tinha condições de pagar a minha faculdade, não existia ENEM, FIES, nada, absolutamente nada, que facilitasse o meu ingresso na Faculdade. Eu não tinha nem referência de alguém na família com curso superior.

Acelerando a linha do tempo, eis que por volta dos meus 17 anos eu consegui um emprego de vendedor numa livraria da minha cidade, o que, aliás, me deixou maravilhado em razão da minha paixão por livros.

A livraria foi um daqueles golpes de sorte em minha vida que só depois de um tempo dei o devido valor. Ali eu fui direcionado para o curso de direito (mesmo tendo asco pelos profissionais da área). Com muito estudo consegui uma boa nota no ENEM que, posteriormente, me habilitou para uma bolsa de estudo numa faculdade de direito.

O curso de direito foi outro divisor de águas em minha vida.

Levei o curso muito a sério. Literalmente era a minha tábua de salvação. Modelei os melhores profissionais da área. Tive sorte de trabalhar com excelentes parceiros que hoje são os melhores amigos. Fui o primeiro da família a ter um curso superior. Fiz mais duas pós-graduações.

Desde a formatura no curso de direito, eu e minha esposa, também advogada, abrimos o nosso próprio escritório. Eu, particularmente, ascendi da classe E para a classe B. Já são quase 13 anos de advocacia. E muita decepção. Um verdadeiro Ouro de Tolo.

Como diria Raul Seixas:

Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou o dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente

Por ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso, abestalhado

Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto: E daí?

Eu tenho uma porção

De coisas grandes pra conquistar

E eu não posso ficar aí parado

Eu devia, mas não estou feliz há um bom tempo. A minha esposa também não. A frivolidade, a corrupção e, sobretudo, a injustiça, me tirou a fé na justiça brasileira. Eu digo, sem dúvida nenhuma, que o sistema judicial brasileiro está falido há muito tempo.

Isso me fez refletir.

Eu tinha entrado na corrida dos ratos e não via luz no fim do túnel. Eu precisava mudar a minha vida. Ou eu ia continuar sobrevivendo ao invés de viver.

Deus agiu em minha vida.

Eu consegui encontrar uma área rural numa cidade vizinha à minha. Eu e minha esposa começamos do zero a construir o nosso cantinho. Não tinha nada. Já fizemos bastante benfeitorias, mas ainda falta muito (por exemplo, na presente data ainda não temos ligação de energia elétrica).

Em resumo, estou num momento de transição, saindo da advocacia e pisando na vida rural no melhor estilo sobrevivencialista. A razão do blog é estabelecer um canal de comunicação na internet que leve em consideração os atributos da minha personalidade (quietude, silêncio, solidão, etc.), os quais se assemelham ao arquétipo do Eremita do Tarô. No meu caso fiz uma ligeira adaptação: substitui o cajado pela força da espada, a lamparina pela balança da justiça, ressaltando que a luz vem de cima: Deus.